O paradoxo angolano

Há um paradoxo muito curioso em África, Mediterrâneo e Crescente Fértil como os cientistas denominam aquela zona que vai do Egipto até ao Iraque e Irão. O homem nasceu na África e sabe-se que pelo menos pela via maternal todos os homens têm uma mãe comum, a Eva Genética. Daqui colonizaram todo o mundo.

Por Brandão de Pinho

Mas a sedentariedade só se deu no Crescente Fértil. O homem aprendera a domar a natureza e deixar de ser um nómada. Creio que quando parou de pensar no que haveria de dar de comer aos filhos nesse dia, ou nessa semana, canalizou as energias para a organização gradual de civilizações cada vez mais complexas.

Mais tarde, gregos, romanos e porque não os fenícios e cartagineses afinaram a civilização com pequenos detalhes que o grau de organização e conhecimentos absorvidos de outras culturas e a invenção da escrita permitiram preservar o que proporcionou a alguns dos seus cidadãos a ter quem trabalhasse por eles e com o ócio, o tempo livre e possibilidade de falarem de coisas fúteis e aparentemente não essenciais, atingiram o auge com a cultura greco-romana, sofisticada e moderna que foi tão grande que quando desabou deu origem às trevas medievas.

Mas apesar disto tudo, na actualidade o grau de desenvolvimento destes 3 blocos é inversamente proporcional à sua importância na génese do que somos hoje, mesmo que os recursos sejam tantos que pela lógica, sobretudo África, deveria ser o paraíso.

Mas não é isso que acontece na África sub-sariana (nem na sobre-sariana se me permitem o neologismo) se excluirmos a RSA, e, as desculpas que serviam perfeitamente para justificar o atraso, imputadas aos europeus, depois às duas potências no tempo da Guerra Fria e recentemente aos chineses, começam a cheirar a mofo e quem quiser ser honesto intelectualmente pode concluir que se vê aprisionado num sistema em que a corrupção e o nepotismo impede, foquemo-nos em Angola, que a democracia, o esforço, o mérito determine que os melhores ascendam aos cargos que poderiam mudar o país, com regras bem definidas e instituições fortes e independentes. Um exercício possível se analisarmos a China de Mao até à China de hoje.

Os homens são todos iguais. Têm todos as mesmas capacidades e faculdades. Os mesmos desejos de subir na vida e proporcionar o melhor aos seus filhos. Neste caso não há nenhuma diferença entre branquíssimo, branco, amarelo, vermelho, castanho ou preto.

Então só podemos chegar a uma conclusão. É necessário que se invista na Educação e Formação dos angolanos, num exercício de poder verdadeiramente patriótico, com o compromisso de toda a população remar sincronizadamente para a frente neste mar revoltoso em que se tornou o mundo e que se copie as democracias ocidentais, pois à falta de melhor resultam, pois já concluímos que somos todos iguais, logo os mesmos modelos devem ser aplicados.

É necessário dar condições aos quadros estrangeiros de qualidade que sobejam no espaço lusófono e aprendermos com eles e mudar as coisas radicalmente, sem deixar de investir nas escolas, pré-escolas, universidades e em todos os canais de fazer chegar aos jovens, por todos os meios, a capacidade de pensar e agir por eles próprios antes que esta era de tecnologia os destrua como vem acontecendo na Europa.

Só há duas formas de se fazer isso: através de uma revolução sangrenta e impiedosa, ou através da mão firme de um governante cujo imperativo patriótico seja suficientemente forte e corajoso para resistir à imensa clientela formada pela corte imensa e pequena nobreza que gravita ao redor do poder que colhem migalhas, umas grandes outras menores, e que não abdicará do seu “status quo” confortável e privilegiado de ânimo leve e sem resistência.

Será João Lourenço o D. Sebastião por quem Angola vem esperando?

Terá ele força e coragem? Ninguém saberá mas eu intuo que tem vontade, inteligência e patriotismo para levar tão hercúleos trabalhos para a frente.

Em 100 dias já fez um trabalho mas ainda faltam 11. Se quiser que o seu nome seja colocado no mesmo panteão de Mandela e da lei da morte se libertar como dizia Camões, ainda tem muita coisa para fazer. Que tenha força e saúde porque esta pode ser a última oportunidade para Angola.

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